Esposa de blogueiro queniano busca respostas após morte do marido sob custódia da polícia
Por Aaron Ross
(Reuters) - Quando policiais vieram buscar Albert Ojwang -- o blogueiro queniano cuja morte sob custódia provocou protestos nesta semana e levou a um raro reconhecimento da brutalidade policial pelo presidente queniano -- sua esposa inicialmente acreditou que ele estaria seguro.
Ao contrário das dezenas de ativistas políticos sequestrados por supostos agentes de segurança no último ano, o professor de 31 anos foi levado a uma delegacia e os policiais chegaram a compartilhar seus números de telefone com a família.
"Quando eles chegaram, foram muito gentis. Não foram violentos", disse Nevnine Onyango, que estava presente quando os policiais chegaram, acusando o marido de insultar o "chefe" deles. "Então foi isso que me deu ainda mais confiança."
Na manhã seguinte, um membro da família telefonou com a notícia de que Ojwang, o pai de seu filho de três anos, estava morto.
Na semana que se seguiu, a morte do blogueiro se tornou um ponto de tensão em um país que viveu, há apenas um ano, protestos em massa liderados por jovens, em parte motivados pela indignação com a violência policial generalizada.
Centenas de pessoas saíram às ruas da capital Nairóbi nesta semana; veículos foram incendiados e a polícia respondeu com gás lacrimogêneo. Os manifestantes citaram a morte de Ojwang como prova de que nada havia mudado um ano depois que mais de 60 pessoas foram mortas durante protestos inicialmente provocados por propostas de aumento de impostos.
Ojwang foi preso em Homa Bay, no oeste do Quênia, como parte de uma investigação iniciada por uma denúncia formal do vice-chefe da polícia nacional, Eliud Lagat, segundo a Autoridade Independente de Supervisão da Polícia (IPOA), órgão de fiscalização da polícia financiado pelo governo do Quênia.
Lagat alegou que ele era alvo de informações falsas e maliciosas publicadas na rede social X, segundo a IPOA.
O chefe da polícia inicialmente sugeriu que Ojwang havia cometido suicídio, mas depois pediu desculpas após uma autópsia apontar ferimentos que sugeriam agressão como causa da morte.
O presidente do Quênia, William Ruto, declarou na quarta-feira que Ojwang morreu "nas mãos da polícia", e classificou o caso como "desolador e inaceitável".
Até o momento, três pessoas foram presas no caso: o policial encarregado da delegacia em Nairóbi, onde Ojwang foi encontrado morto, um policial e um técnico de câmeras de segurança da delegacia.
A Reuters não conseguiu entrar em contato com Lagat para comentar o caso. Um porta-voz da polícia disse que a morte de Ojwang foi resultado de um crime cometido por "alguns indivíduos" que não representam o serviço nacional de polícia.
"Queremos que a justiça seja feita", disse o porta-voz.